Na semana passada falamos sobre a importância do selim. Hoje vamos falar sobre o segundo ponto de contato: as manoplas da bicicleta.

A manopla (ou punho) da bicicleta é uma das três peças que estão em contato com o corpo do piloto. A todo instante, as mãos do atleta estão em contato com as manoplas, principalmente nos momentos mais tensos e que exigem mais pilotagem, diferente do selim, que perde o contato com o corpo durante uma descida técnica.

Isso nos mostra como as manoplas da bicicleta são responsáveis por conduzir o nosso rolê, uma vez que fazem a conexão do piloto com o guidão, que é o grande controlador da nossa pilotagem.

1 – Fator Grip

A tradução literal para a palavra “Grip” é “Firmeza”. Imaginem que um piso de porcelanato é muito escorregadio e fácil de tomar um tombo caso esteja molhado, ou seja, é um piso sem nenhum grip. Já um piso de garagem, feito em concreto cheio de ranhuras tem bastante grip e, mesmo molhado, ninguém escorrega nele.

Vamos entender aqui a importância de ter um bom grip nas manoplas. Alguém já saiu pra pedalar sem luvas e quando a mão ficou suada, percebeu que começa a escorregar na manopla? Se juntar com um filtro solar, fica pior ainda.

Esse efeito da mão escorregar na manopla é terrível em todos os aspectos. Você pode tomar um tombo por causa disso, caso o escorregão seja grande em um impacto que te pegue de surpresa, como cair em um buraco sem estar preparado. A sua mão sai do guidão e a sua chance de ir pro chão é altíssima.

Na melhor das hipóteses, uma manopla que esteja escorregadia vai desgastar toda a sua musculatura do antebraço, pois vai exigir que você faça muita força para segurar o guidão sem se acidentar. Neste caso, seu gasto energético será enorme e você vai cansar bem mais cedo. É muito normal que toda essa tensão nos braços se estenda até os ombros e pescoço, criando dores musculares que não sabemos de onde vem. Tá aí uma causa provável, pode ser a sua manopla sem grip.

Por isso, temos que escolher manoplas que tenham borracha (ou qualquer outro composto como: silicone, couro, espuma etc) com um grip excelente. Grip nunca é demais, mas esteja avisado que as borrachas que tem um bom grip são as mais macias, logo, o desgaste delas será mais rápido, exigindo que você troque a peça com uma frequência maior (igual aos pneus). Tudo que é bom dura pouco.


Manoplas Sentec com textura para proporcionar maior grip em pontos específicos

Avalie se os suas manoplas são lisinhas ou se têm texturas que ajudam aumentar o grip. Para avaliar se o composto é bom, veja se ele tem aquele efeito “chiclete”, que a borracha dá uma leve colada na mão, ou se mais parece uma madeira escorregadia.

2 – Fator fixação manopla X guidão

Não adianta nada a borracha do seu punho ter um ótimo composto, com ranhuras que promovem o melhor grip com a mão, se a manopla não estiver bem afixada no guidão da bicicleta.

A manopla que fica girando no guidão cria basicamente o mesmo problema da manopla sem grip, exigindo que o piloto produza a mesma tensão muscular nos braços para se manter vivo.

Vocês podem observar que algumas manoplas utilizam o sistema de Lock, que é um parafuso para garantir o aperto máximo no guidão. Estas manoplas garantem que o fator fixação fique quase sempre 100% confiável, mas são um pouco mais pesados.

Exemplo de manopla com o parafuso do sistema Lock

Por outro lado, temos a opção de manoplas sem o parafuso do sistema Lock. Eles são muito justos e difíceis de serem instalados, pois devem estar sempre muito apertados para nunca girar no guidão da bike. Acontece que, é muito comum ver manoplas sem lock que deixam a desejar e acabam rodando no guidão.

Via de regra, atletas de XCO preferem se arriscar em manoplas sem o sistema de lock para não deixarem as bikes com aquele pequeno peso a mais, enquanto os atletas de enduro usam somente manoplas com o sistema lock. Você não precisa ficar preso nessa regra.

Manopla de silicone sem trava, uma das combinações mais leves do mercado

3 – Fator absorção de micro impactos

A manopla é responsável pela absorção dos impactos que recebemos, assim como os pneus e a suspensão da bike, só que em uma intensidade bem menor.

Uma manopla mais fofinha vai deixar a bike mais confortável, pois não vai transferir as vibrações da bike para as nossas mãos, que acabam subindo para os braços e todo o corpo do ciclista. Por outro lado, uma regra do ciclismo é: se é muito confortável, perde performance.

Por isso, os atletas mais experientes preferem manoplas mais duras, com menos absorção de impactos, para não perderem o tato da leitura no terreno, obtendo melhor resposta de reação em situações de pilotagem ou de sprint. Este é também o motivo de alguns atletas não gostarem de usar luvas.

A minha dica é: se você está iniciando no pedal, escolha as opções mais confortáveis.

4 – Fator espessura

A espessura de uma manopla também vai ditar a facilidade que você vai ter para manter as mãos no guidão ou tomar uma eventual escorregada/perda do grip.

Uma manopla muito fina faz com que a nossa mão fique muito fechada, sem conseguir aplicar toda a força que temos nos braços, enquanto uma manopla muito grossa faz com que a mão fique levemente aberta, abrindo espaço para um possível escorregão.

Algumas marcas fabricam manoplas de espessuras diferentes, o que é bem interessante.


Manopla High One Confort, com espessura maior na base da mão, promovendo maior conforto em somente um ponto e mantendo a espessura mais fina na parte dos indicadores

Obviamente a escolha da espessura da manopla deve vir pelo tamanho da mão. Mão pequena, manopla fina. Mão grande, manopla grossa.

Acontece que a modalidade que praticamos também deve ter certa influência nessa escolha.

Longas distâncias devem priorizar o uso de manoplas mais largas, pois geram menos tensão nos braços, uma vez que não promovem o fechamento total da mão.

Para entender melhor isso, basta imaginar que você precisa carregar um vergalhão de obra, que é bem fino e deixa a nossa mão totalmente fechada, ou carregar uma latinha de Red Bull, que tem uma espessura mais adequada pra nossa mão. A latinha é bem mais fácil de ser segurada o dia inteiro. Por outro lado, uma garrafa de vinho é muito larga e não permite que a nossa mão se feche por completo, o que também se torna desconfortável.

Achar o meio termo ideal realmente não é fácil.

Conclusão

As manoplas são como escova de dentes: não vão durar pra sempre e devem ser trocados sempre que ficarem velhos. Você não precisa usar sempre a mesma marca e modelo, vale a pena testar novas opções para ver se te atendem melhor do que os seus anteriores.

Vale muito a pena sentir na mão como é o grip e espessura de uma manopla antes de decidir comprar, mas ainda assim, corremos o risco de nos decepcionar durante os testes pedalando. Isso é normal e não deve ser um fator decisivo para você não comprar manoplas novas.

Avalie já as suas manoplas e considere trocá-las caso eles estejam deixando a desejar em algum dos fatores que estudamos.

No próximo texto vamos falar sobre o último ponto de contato: os pedais!

Abraços, bons treinos e mantenham o grip!

 

  Por Breno Bizinoto – Revista Ciclo Sul

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