Dos três pontos de contato com a bicicleta, o Selim merece uma atenção especial. Entenda por quê.
Pedalar é uma atividade que exige uma série de cuidados e conhecimentos preciosos para que tudo dê certo. Alguns erros podem transformar essa atividade prazerosa em um momento de dor e sofrimento, como já vimos em vários vídeos icônicos na internet. Além disso, pode virar uma atividade perigosa! Pedalar com o equipamento incorreto ou desregulado pode aumentar o risco de lesões e até provocar quedas.
Vamos falar nessa série sobre os três pontos de contato: Selim, pedais e punhos. Já parou pra pensar que estas são as únicas peças da bike que encostam no nosso corpo? Isso cria uma demanda mais cuidadosa dessas partes da bike, nos obrigando a ter mais atenção com cada uma delas. Um ponto de contato deve ser avaliado com muita perícia, pois influi diretamente na nossa pilotagem, segurança e posição do corpo.
Hoje, vamos falar sobre o Selim.
Este é o item que mais gera discussões e reclamações por iniciantes. Os erros mais comuns são:
Altura incorreta do selim
Um selim muito baixo pode provocar dores graves no joelho. O grande problema é que essas dores aparecem depois de algum tempo pedalando e depois podem demorar para desaparecerem, mesmo após a correção do problema.
Por outro lado, um selim muito alto pode criar uma rotação nos quadris, que vai desencadear vários outros problemas no seu corpo. Além disso, o selim alto é extremamente prejudicial para a pilotagem em trilhas e trechos técnicos, aumentando drasticamente o risco de tombos. Sabe aquela “bundada” que damos no selim durante uma descida? Isso é perigoso e pode ser um sinal de que você está com a altura incorreta dessa peça!
Ainda sobre altura do selim, uma ferramenta muito interessante é o Canote Retrátil. É um item muito legal que permite alterar a altura do selim de acordo com as demandas de subida ou descidas, melhorando muito a nossa segurança e diversão em pilotagens. Em um próximo artigo, vamos falar sobre ele.
Recuo do selim
Além de regulagem para cima e para baixo, o seu selim também se pode ser definido mais para frente ou mais para trás. Isso vai influenciar na posição que o seu tronco fica (mais pra frente ou mais pra trás), deixando os braços mais dobrados ou mais esticados. Vai influenciar também na posição do seu joelho, que é importante por haver uma necessidade de estar corretamente alinhada com o eixo de força da pedalada, lá embaixo no pedal (outro ponto de contato que vamos estudar na próxima série deste artigo).
O que a gente precisa saber sobre o recuo de selim é que ele pode ser responsável por dores no joelho, na lombar, nos tríceps e até na nuca. Ele pode ser responsável até por uma dificuldade que você tenha na pilotagem da bicicleta, afinal, ninguém consegue conduzir uma bike com os braços esticados, concordam?
É claro que existem outros fatores que contribuem para essas posições, como o tamanho do seu quadro, tamanho da mesa e do guidão.
Inclinação do selim
A recomendação é que o seu selim esteja sempre paralelo ao chão. Alguns atletas, mais experientes optam por não seguir essa recomendação e deixar o bico do selim um pouco mais baixo. Bem pouco, quase imperceptível aos olhos!
Existem estudos que dizem ser uma boa solução para subidas muito íngremes. Francamente, se você procura orientações para iniciar no pedal, evite seguir essas teorias. Minha recomendação é que você deixe o seu selim em posição paralela ao chão. Use um nível de parede ou nível do celular para averiguar. Coloque a bicicleta em um piso plano e observe de longe se o selim parece estar paralelo ao chão e seja feliz.
Deixar o selim com inclinação errada pode mudar o contato ideal que o seu corpo deve ter com essa peça.
Contato correto
O contato correto entre o corpo do ciclista e o selim deve ser feito nos ísquios. São os óssos que temos na nossa bunda. É esse osso que vai receber o peso do ciclista e sentir dor no final do dia. Jamais deve-se colocar o peso em cima do períneo, que é uma parte mole e vascularizada no nosso corpo. Colocar peso no períneo significa cortar a irrigação de toda a região, incluindo genitália. É aí que mora o boato de que alguns ciclistas desenvolvem problemas sexuais e de fertilidade. Preserve o seu períneo e utilize somente os seus ísquios para apoiar na bicicleta.
Além disso, o contato dos ísquios com o selim não deve ser constante e direto. Isso quer dizer que você deve criar alternâncias na posição que pedala, ou seja, as vezes pedalar em pé. Trocar de posição, mesmo que por poucos segundos, vai aliviar a pressão, vascularizar a área e alternar toda a musculatura do seu corpo. Lembre-se de pedalar em pé por 5 ou 10 segundos a cada 20 minutos, seu corpo inteiro vai agradecer!
Em tempo, é impossível ter o contato correto se não tivermos um selim que tenha o formato ideal para o nosso corpo!
Escolhendo o Selim
Essa é uma parte importante e delicada. Cada pessoa tem o corpo de um tamanho, e isso vale para a largura do nosso quadril, tamanho das nádegas e distância dos ísquios. Por isso, existem selins de diferentes tamanhos.
Este é o ponto mais importante na hora de diferenciar a bicicleta de uma mulher, pois é a única parte do corpo feminino que é muito diferente do homem e vai estar em contato com a bicicleta. Mulheres tem os quadris mais largos e por isso precisam de selins mais largos. Cada piloto, seja homem ou mulher, deve buscar pela sua medida ideal.
Além de comercializar selins com tamanhos diferentes, as marcas também apresentam selins vazados ou preenchidos. Geralmente as mulheres preferem os selins que são completamente vazados, mas muitos homens também optam por estes modelos.
Com relação à quantidade de acolchoamento, existe uma enganação ao vender selins muito acolchoados com a promessa de aumentar conforto. O acolchoamento em excesso é prejudicial, pois pode voltar ao problema de pressão no períneo. Atletas mais experientes tendem a utilizar selins mais duros. Deve-se buscar o meio termo que pareça mais confortável e fugir dos extremos. Capa de gel nem pensar!
Conclusão
É impossível definir por aqui qual deve ser a altura e recuo do seu selim sem fazer um bike fit. A dica que podemos é para observar sempre as informações acima e questionar se tem algo errado na sua bike.
Dores no joelho? Pode ser o selim baixo! Faça um teste de subir a posição dele e procure tirar a sua própria conclusão. Mesmo se não estiver sentindo nenhuma dor, procure observar se a posição do seu corpo em cima da bike parece com a dos seus amigos que estão pedalando com você. Peça para eles te falarem se os seus braços parecem muito esticados (ou muito dobrados?). Peça para eles observarem se o seu selim parece baixo pela flexão que os seus joelhos fazem no momento de cada pedalada.
Busque dicas com os amigos, observe os mais experientes no pelotão, pergunte pelos selins que eles usam – e claro – procure um profissional do bike fit.
Tirar as próprias conclusões do equipamento que está usando é a parte mais importante para se tornar um expert!
Fique ligado em nosso blog, semana que vem vamos falar sobre o segundo ponto de contato: os punhos!
Por Breno Bizinoto – Revista Ciclo Sul